CAPÍTULO I - NOÇÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO I - NOÇÕES PRELIMINARES

 

1.1 – Definição de suicídio e integração

       Suicídio – o termo suicídio foi utilizado pela primeira vez em 1737 por Desfontaines. O seu significado tem origem no latim, na junção das palavras sui que significa (si mesmo) e caederes, quer dizer (acção de matar).

 O suicido é definido como um acto voluntário por intermédio do qual um individuo possui a intenção e provoca a própria morte. A este termo, juntasse-lhe o termo “agressão”, que é usado para descrever os comportamentos pelos quais o indivíduo agride a si mesmo, frequentemente com alguma gravidade, mas não necessariamente com a intenção de se matar. Em geral os suicidas, numa primeira vista não têm a intenção de se matar, mas sim para chamar atenção e com o fim ultimo de acabando mesmo por se matar.

Integração – entende-se por integração, a incorporação por uma sociedade, de elemento étnicos ou religiosos de uma determinada população que proporciona igualdade de oportunidades a todos os seus membros.

1.2 - Suicídio ao longo da historia

Numa visão geral, é notória a ocorrência do suicídio ao longo da história. Segundo a história, houve épocas que se acreditava que esta era uma doença moderna, desconhecida nas culturas primitivas, generalização que jamais foi provada. Em algumas civilizações antigas, as taxas de suicídio eram relativamente altas, mas em outras desconhecia-se tal facto.

É de salientar que ocorreram suicídios em vários campos que compõe o mosaico social, sendo este facto visível quer no campo politico, desportivo, religioso, etc.

Tendo em vista o contexto cultural, o suicídio foi visto por algumas culturas como um acto não condenável, como é o caso da cultura grega, embora tendo sido reprovada pela primeira vez por Platão, embora sendo esta prática incentivada por algumas escolas de filosofia grega como foi o caso dos sofistas e cínicos em determinadas situações.

Na Roma Antiga, o suicídio era uma prática relativamente comum, particularmente entre os escravos, talvez por se tratar de uma camada onde a questão do tratamento no sentido negativo era mais visível em relação por exemplo a classe dos soldados e daqueles que governavam.

Já na cultura judaica, com sua ênfase na essência sagrada da vida humana, era contraria ao suicido, embora se tenha verificado na história judaica diversos episódios de suicídios, entre os quais o mais famoso foi o suicídio colectivo de Massada, em 73 d. C., quando 960 judeus preferiram a morte a serem escravizados pelos romanos. A lei «talmúdica», tal como nos retrata a história, proíbe a celebração de homenagens fúnebres as vítimas de suicídio, mas em contra partida era a favor do conforto aos membros da família do suicida. Quanto ao cristianismo, provavelmente o suicídio era relativamente comum no seu início, e o primeiro cristão a condenar este acto foi Santo Agostinho, no seu livro A Cidade de Deus, (413 – 426) e Santo Tomas de Aquino isto no século XIII, condenou o suicido com base em três postulados: era uma violação contra a autopreservação do indivíduo, contra a comunidade e contra os desígnios de Deus.

No Japão por exemplo os guerreiros e os nobres utilizavam o suicídio como uma alternativa para se punirem depois de um crime e para evitar que a vergonha caísse sobre eles ou suas famílias.

Desta feita o suicídio na visão histórica foi retratado segundo os parâmetros de cada cultura. Enquanto que para algumas era visto como sendo um acto normal, já para as outras, consistia um acto condenável, como por exemplo: na Inglaterra eram punidos todos aqueles que tentassem cometer o suicídio. Nesta questão uma pergunta se levanta: e para aqueles que chegavam mesmo a se matar que pena lhes eram aplicadas?

Recorrendo a cultura bantu, estes não tinham direito a sepulturas junto a aqueles que morreram não pela prática do suicídio.

Nos séculos V e VI, nos concílios de Orleans, Braga e Toledo, proibiram as honras fúnebres aos suicidas e determinaram que mesmo aqueles que não tivessem obtido sucessos em uma tentativa deveriam ser excomungados. Assim, o suicídio passou a ser considerado um crime que poderia implicar na condenação à morte dos que fracassavam. Os familiares do suicida eram deserdados e vilipendiados enfrentando os preconceitos sociais.   

 

1.3 - Suicídio: honra ou desespero?

Ao desenvolver estes dois itens, é necessário em primeiro lugar ter em conta o contexto em que eles acontecem para não nos levarmos pura e simplesmente pela interpretação que muitas das vezes, pelo seu peso, nos dá a palavra.

Tal como fiz referencia acima no que tange aos guerreiros e nobres que para se punirem depois de um crime e para evitar que a vergonha caísse sobre eles ou sobre as suas famílias, preferiam enveredar ao suicídio do que tentar arranjar outras soluções para o problema. Nesta situação, o suicídio não pode ser encarado como sendo uma honra, mas sim como um desespero.

Já ao contrário de quem perante a uma injustiça o obriguem a tomar parte da mesma e dada a sua recusa opte pela morte ao invés, mesmo sabendo que a sua consciência o condene de participar do acto, ai sim naquilo que é a minha perspectiva, deve-se encarar esta mesma como um acto honroso. Tal como nos contam os escritos de Platão acerca da morte de Sócrates que ao invés de se submeter a questão da corrupção levada a cabo pelos dignitários de Atenas, preferiu a morte do que viver. “Talvez tenha sido a morte de Sócrates, a dignidade com que assumiu a sua condenação, que o converteu em personagem célebre, ou talvez, ou porque foi o primeiro dos filósofos que morreu pela justiça…”[1]. Assim como Sócrates pode-se também considerar honra a morte de indivíduos que sacrificam a sua vida no intuito de salvaguardar dos demais indivíduos.

Também nesta senda, pode-se incluir ainda a questão do remorso que muitas das vez leva a ponto de o indivíduo cometer o suicídio como foi o caso de “Judas Iscariotes”[2], que vendeu Jesus aos sumos sacerdotes por 30 moedas de pratas e que depois de presenciar o sofrimento de Jesus, por questão de culpa preferiu o suicídio. 

1.4 - Suicídio na visão cristã

Até então, a igreja tem sido dentre e tantas, uma das organizações singulares que condena, assim como a prática do aborto, também a forma voluntária de pôr fim a própria vida, constituindo desta feita, ou seja, caracterizado como suicídio. E um dos primeiros cristãos a condenar este acto foi Santo Agostinho na sua obra intitulada (A Cidade de Deus). Embora que para os primeiros cristãos, a morte equivalia à libertação, pois a doutrina pregava que a doutrina era um “vale de lágrimas e pecados”. Nesse momento a morte surgia como um caminho para o paraíso. Nesta questão se tivermos em conta a visão de santo Agostinho, é concreto provar que este tipo de “pregação” não pode justificar de forma alguma a prática do suicídio.

1.5 - Explicação psicológica do suicídio

A Psicologia, sendo uma ciência que tem como objecto de estudo os processos psíquicos, assim como o comportamento do ser humano como dos animais é muita das vezes chamada a dar explicações a certos fenómenos que se dão no ser humano em particular. Desta feita, o suicídio não escapa a esta esfera do conhecimento.

Hoje ainda é notório tratar o suicídio sob véu de tabu, ou seja, um tema sobre o qual se devem evitar maiores aprofundamentos teóricos ou aceleradas discussões.

Para a Psicologia, o suicídio pode ser considerado como sendo um problema de saúde pública, onde modernamente não é mais considerado o quadro de “suicida”, na medida que em países onde a estatística é utilizada como ferramenta no auxilio de melhor visualização da realidade social.

O suicídio na visão psicológica é a consequência de uma perturbação psíquica. A tenção nervosa que envolve e termina nos conflitos intrapsiquicos de gravidade acentuada, transtorna a medida que a morte se torna único refúgio e a inevitável solução dos problemas. Inconscientemente, o suicida tenta depositar a culpa de sua morte aos outros indivíduos que compõem o seu ambiente social, principalmente aos familiares. Neste caso, o suicídio funciona como um “castigo”, é como revidar uma agressão do ambiente que o envolve.

A depressão também está aliada aos casos de suicídio. Porem, no auge das crises depressivas o indivíduo fica menos vulnerável a tais tentativas. Isto porque a depressão é caracterizada principalmente pela demonstração, desinteresse e letargia do raciocínio. Nesse momento, o indivíduo não se dispõe a nenhuma actividade, inclusive o acto de se matar. Alcançado este estágio, a tendência é a omissão, que também é considerado uma das formas de suicídio.

O sentimento de culpa imposto pelas chantagens emocionais, agressão, castigos exagerados, o abandono afectivo e a superproteção são alguns dos itens abordados pela Psicologia, como sendo as principais causas dos suicídios, cometidos principalmente por jovens. A soma desses e outros factores menos relevantes, resultam numa desorganização da personalidade em desenvolvimento, desequilibra continuamente o sistema nervoso e desencontra o indivíduo do seu ego. Por consequências superficiais temos o bloqueio intelectual de uma fuga psíquica e o entorpecimento mental. Novamente o suicídio é o resultado mais grave dos desequilíbrios.

Freud dentro de uma abordagem psicanalítica, estabelecia que a auto-aversão vista na depressão originava-se da raiva em direcção a um objecto de amor; raiva que a pessoa desviava para si mesma. O suicídio seria a expressão máxima desse fenómeno e não acreditava que houvesse suicídio seria sem o desejo reprimido de matar alguém. Uma abordagem bastante interessante pode ser encontrada em seu trabalho publicado em 1917 chamado (Luto e Melancolia). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Luís RODRIGUES e Júlio SAMEIRO, Introdução à Filosofia, 10º Ano, Plátano editora, 4ª edição, pag. 337.

[2] Cfr. Bíblia Sagrada, Evangelhos de Mt. 27, 3-5.